4/07/2008

Os meus preferidos do Século XX: Banda rock

Para mim, os Beach Boys são, como banda, tão incontestáveis como Elvis o é como solista masculino. Considero-os a uma distância de anos-luz em relação a todas as restantes bandas, antigas ou modernas.

Dois motivos principais constroem a base desta minha opinião: o incrível talento criador de Brian Wilson (muito bem coadjuvado pelo seu primo Mike Love), e a opção que eles fizeram desde o primeiro dia de utilizar harmonias vocais de tipo polifónico, quase sempre muitíssimo bem elaboradas e eximiamente executadas.

As músicas dos Beach Boys (estou a generalizar, é claro) tocam uma corda no meu coração que dificilmente outros grupos conseguem. Há uma auréola de sonho, algo de angélico, em volta das suas melodias que constitui uma constante ao longo da grande maioria das suas composições. Mesmo quando interpretam criações de outrem, eles conseguem imprimir esse selo de qualidade que dá uma fantástica uniformidade ao seu repertório.

Por isso, destacados no topo das minhas preferências, os Beach Boys ocupam uma posição firme e inabalável. Em segundo lugar ex aequo, coloco duas bandas: os Moody Blues e os Byrds. Estes últimos tiveram, infelizmente, uma existência fugaz, mas enquanto duraram pontificaram. Os Moodies, tal como os Beach Boys, continuam até hoje a premiar-nos com o seu formidável talento.

Então e os Beatles? – perguntará o leitor. Correndo o risco de ser esfolado vivo, ponho-os na mesma cesta de inúmeras outras bandas, também excelentes, como os Rolling Stones, os Led Zepellin, os Who, os Status Quo, os Pink Floyd, etc. Eu estava a morar em Londres (Radnor Walk, Kings Road, Chelsea) quando foram editados os primeiros singles dos Beatles. Sabem qual foi a minha reação? Detestei. Achei-os desafinados, agressivos, “desarmónicos”. E mantive essa opinião durante bastante tempo. Só comecei a gostar do grupo quando surgiram músicas como “Michèlle”, “Girl”, “All my loving”, etc. Até lá, das bandas britânicas, a minha preferência ia para Gerry and the Pacemakers, Brian Poole and the Tremeloes, Freddy and the Dreamers, Manfred Mann, etc, cujos sucessos dançava incessantemente no “Café des Artistes”, em South Kensington, boîte que frequentava dia sim, dia sim.

Conforme se pode verificar pela imagem acima, tive o privilégio de assistir a uma apresentação ao vivo da minha banda preferida, The Beach Boys, no passado dia 19 de Agosto de 2007. O espectáculo ocorreu no Wolf Trap (Foundation for the Performing Arts), um espaço cultural situado em Vienna, na Virgínia. USA. Confesso que ia preparado para ficar já satisfeito com algo mesmo que fosse uma sombra do som a que estava habituado nos discos dos Beach Boys. Isso já seria o suficiente para matar a minha sede de quase 50 anos de fã. Até porque tinha visto os vídeos de algumas apresentações ao vivo do Brian Wilson – que deixavam muito a desejar.

O que aconteceu, para minha enorme e saborosa surpresa foi, porém, exactamente o contrário. A banda está amadurecida, melhorada, enriquecida com músicos de muito melhor qualidade que os irmãos Wilson, e as suas interpretações durante 3 horas de show revivendo os maiores sucessos do conjunto, ultrapassam a qualidade dos registos discográficos. E esta, hein?! Sabiamente dirigida pela dupla Mike Love – Al Jardine, a banda, agora composta por 8 membros, mantém a assistência ao rubro durante a totalidade do concerto. A juventude dos anos 60, devidamente acompanhada de filhos e netos, dançou, pulou e sonhou a tarde inteira (fui à sessão das 14 horas), transformando o acontecimento num verdadeiro carnaval de alegria e prazer. Contagiante, rejuvenescedor, inebriante, transcendente, “religioso”, inesquecível!

O Brian Wilson nem apareceu fisicamente. Aliás, há décadas que ele tem um comportamento errático e receia enfrentar o público. Mas nós perdoamos-lhe tudo isso em troca da sua presença espiritual patente nas eternas melodias e harmonias que pariu e que o público desfruta com apetite insaciável.

Os Beach Boys estão em permanente tournée mundial, fazendo, em média, 170 apresentações por ano – uma média invejável. Consultem o calendário no website deles (http://www.thebeachboys.com/) e escolham a data e local do concerto que pretendem ver. Até dia 20 de Abril eles estão a apresentar-se na Grã Bretanha, aproveitem: It’s the experience of a lifetime!

12 comentários:

ié-ié disse...

Que engraçado. Em 1970 eu estava na Oakley Street (Albert Bridge), também uma transversal da King's Road.

Tu estavas no início dos Beatles e eu no final.

Acho que ainda faço um texto sobre isto, que acho interessante. Ainda por cima os Beatles não te dizem grande coisa, a mim dizem.

Posso?

Luís

Zeca do Rock disse...

Como eu disse, os Beatles inicialmente não me disseram grande coisa; depois, vim a gostar deles, mas nunca como banda favorita. Tenho toda a discografia do grupo, incluindo bootlegs - acho eu.

Podes fazer a matéria que quiseres a esse respeito!

ié-ié disse...

Ainda por cima li algures que viste um concerto dos Beatles no Empire Pool. Em que data? Só pode ter sido 21ABR63, 26ABR64, 11ABR65 ou 01MAI66.

LT

Zeca do Rock disse...

Não, eu vi (mas não ouvi por causa da gritaria) um concerto dos Beatles no Wembley Stadium, se a memória não me falha, mas não faço ideia nenhuma em que data. Esqueci-me completamente.

Zeca do Rock disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Zeca do Rock disse...

Mas só pode ter sido entre 62 e 64. Em 65 entrei para o COM em Mafra e em 66 casei-me e embarquei para a Guiné, portanto já não estava por lá.

ié-ié disse...

Então só pode ter sido a 21 de Abril de 1963 ou no dia 26 de Abril de 1964. Entraste em Mafra quando, tens ideia? (eu lembro-me muito bem quando entrei - 22 de Abril de 1974!!!).

Outra coisa: e o concerto foi no Empire Pool (hoje Wembley Arena). Nessa altura não havia concertos de estádio! E estes concertos de Abril no Empire Pool eram os dos vencedores da New Musical Express. Era um espectáculo vários, Cliff e Shadows, etc.

LT

Zeca do Rock disse...

Olha, eu estava com um grande grupo de rapazes e raparigas, todos bastante bebidos, no meio de toda aquela confusão, por isso, lembro-me muito mal dos pormenores, mas deve ter sido em 1964.

Outra ocasião em que fui a Wembley foi para ver um jogo de futebol (!) entre a Inglaterra e uma selecção do resto do mundo (com o Eusébio). Incrível, porque eu gosto pouco de futebol!...

Entrei para Mafra (vulgo Máfrica) em Maio de 1965.

Tiveste sorte!

Jack Kerouac disse...

Os Beatles deram um concerto no dia 1 de Maio de 1966 ??? eu sabia que havia uma razão para eu me ter tornado beatlemaníaco depois de eles terem acabado....nasci nesse dia. Se tiverem alguma imagem de algum cartaz ou bilher adoraria ver isso :)

Quanto ao concerto que o Zeca fala dos "actuais" Beach Boys, a qualidade poderá até ser superior, mas não é Beach Boys, é quase uma banda de covers...embora a sensação que transmitem até possa ser idêntica.

Abraços

Zeca do Rock disse...

Tem razão, Jack, mas não esqueçamos o seguinte:

1. O Brian Wilson SEMPRE foi um elemento de retaguarda, compondo e orquestrando, mas não gostando de aparecer nos concertos.

2. O Dennis e o Carl, tirando os primeiros (poucos) anos, também passaram a ter um comportamento público lamentável, bêbados e drogados. tendo sempre duplos alinhados para os substituir. Tenho aqui gravações de shows onde isso se verifica. Depois, morreram, e pronto!

3. Os únicos que estiveram sempre presentes foram o Mike Love e o Al Jardine (este com uma breve ausência), logo, foram eles que asseguraram a continuidade da banda e a fidelidade do seu som. Esses continuam lá.

4. Em conclusão, os Beach Boys sempre foram uma banda recheada de mercenários, e isso nunca afectou negativamente a qualidade do seu trabalho; pelo contrário. Assim sendo, a presente configuração é talvez a mais perfeita de sempre, pois conta com elementos escolhidos "a dedo", e com recursos técnicos de última geração. O resultado é surpreendente.

Jack Kerouac disse...

Também é verdade, até o Ringo tocou com eles, se não me engano num concerto de um 4 de Julho. O Brian Wilson ao que parece sofre de Agorafobia, pânico de multidões. O Dennis nem era grande baterista, mas era o irreverente, e segundo reza a lenda, o único deles que fazia realmente surf....mas nas gravações, pelo menos nas dos 60, são basicamente os originais, com uma ou outra alteração pontual. O Carl, pelo que li quando morreu, era o grande responsável pela perfeição das harmonias em palco. Concordo que com os musicos e tecnologia actual, o espéctaculo ainda seja melhor. Mas eu gosto muito daquele som quente original :)

Zeca do Rock disse...

Até o Glen Campbell fez parte do grupo durante alguns anos... aliás, esse senhor foi um afortunado, pois tocou na banda do Elvis e nos Beach Boys, tendo participado de várias gravações com ambos. Precisamente os meus favoritos em ambas as modalidades.

Mas para apreciar o som actual dos Beach Boys é preciso realmente assistir a um concerto. Eu não me acreditaria só por relato. Não é por acaso que dão 170 concertos por ano, praticamente dia sim dia não, sempre com lotações esgotadas!