3/09/2010

Ex-Alferes Paiva e Sousa comenta o meu Desabafo

Caro Zeca,

Compartilho do teu desabafo. Estive em Farim no tempo em que lá estiveste e também o Cap. Fontão. Nessa época era Alferes de Cavalaria do Pel. Daimler 1134 e encarregado da 5.ª Comp.ª de Milícias. Cabia-me a mim e ao Oliveira do Pel. de Morteiros patrulhar as estradas de Binta e Jumbembem, fazer de Oficial de Serviço ao Batalhão incluindo os postos de Milícia. Cabia também ao meu pelotão a defesa rápida da periferia do aquartelamento. Missões houve de minha iniciativa, como promover e orientar a construção de casas para a milícia, promover a escolaridade dos milícias, tentar fazer uma sede para a milícia, onde se pudesse ter uma secretaria, escola, formação agrícola e desenvolver outros aspectos com interesse.

Era muito importante auxiliar aquele povo da Guiné. Só na primeira semana de Farim fiz a sesta, nunca mais tive tempo. Manter as AM e pessoal operacionais, os serviços, as patrulhas aos itinerários, a organização da milícia, a construção das casas, selecção de novos milícias para substituir os que foram para os “Roncos”, etc… só o Agostinho Ferreira me dava alento. Nunca tive um oficial que pretendesse ou que se dignasse a prestar uma ajuda. Custava-me a entender como os oficiais do QP não prestavam apoio áquela luta que servia a “guerra fria” e não a causa de Portugal. Eram os mesmos oficiais que não sabiam dar uma formação capaz para a guerra que enfrentávamos, tivemos de aprender à nossa custa e à custa de vidas humanas e homens estropiados para o resto da vida. De tantas e tantas saídas para Binta e Jumbembem nunca tive ocasião de partilhar aquelas missões com qualquer oficial do QP. Excepto, numa emboscada na estrada de Binta onde partilhei a corrida que lá fizeram as AM com o Tenente Cor. Agostinho Ferreira e nalguns ataques a Farim em que ele nos acompanhou.

As negociações com o IN eram possíveis desde que tivéssemos poder de barganha na mesa. Nas longas conversas com o CMDT de Batalhão, nos passeios que fazíamos de jeep dentro e fora do arame farpado, debatíamos esse assunto e a solução que se nos afigurava era politica, mas obtendo nós alguma supremacia no campo militar. E era relativamente fácil recrutando bom pessoal local, em quantidade tal como se fizera com os “Roncos”, para onde foram destacados milícias para os dois grupos de combate. A disputa para preencher os lugares vagos por causa da formação dos “Roncos”, era enorme. A quantidade de jovens a oferecerem-se era de pasmar. Mandei endurecer várias vezes os exercícios de selecção e tive de pedir ao comandante para se alargar o número, doía o coração ver aqueles rapazes que choravam, lutando furiosamente por um lugar na milícia.

A milícia tinha dois pelotões de maioria mandinga e fula, tentei aumentar o número de balantas, até constituir outro pelotão, mas tive a tenaz oposição do major 2.º cmdt. Os balantas eram os que mais lutavam para entrar na milícia. Gostava dos balantas também, ia muitas vezes sozinho para o fundo da pista vê-los trabalhar na sua agricultura, apreciando as formas como cultivavam a terra. Era o caminho. No tempo do Spínola eram vinte mil homens locais no exército português. Foram entregues a cinco mil esfarrapados do PAIGC. Abatidos do nosso exécito foram umas centenas, com o dito exército português no terreno. Homens, soldados como nós que partilharam connosco a guerra, eram portugueses como nós. Classifiquem isto senhores militares! Entregar ao IN os nossos soldados desarmados!? Pré independência da Guiné? Culpados? Quem? Repare-se na conversão da China ao capitalismo, tudo na ordem, sem os descalabros da União Soviética, ou da nossa descolonização e democratização.

A abrilada abriu as portas à desordem, ao caos social, aproveitado pelas forças que serviam outros senhores, não os interesses portugueses. Militares sem qualquer preparação, nem militar, nem politica fizeram uma revolução sem medirem as consequências, pois o estudo antecipado dos acontecimentos não foi feito. O estudo profundo da realidade económica, social e política ficou por fazer e sem preocupação, alegremente com a turba multa à solta manobrada por agitadores profissionais foi-se corroendo a organização empresarial, colocando a incompetência nos lugares de chefia. Os militares que não souberam fazer a guerra fizeram a revolução, quiseram sobressair na “paz” por eles instituída. A mim coube-me ter de fechar três empresas e ver uma quarta que tinha mais de quatrocentos trabalhadores permanentes ficar reduzida a uma dúzia.

Apressadamente aderimos à CEE para não ter que aderir ao comunismo. Foi para isto? Um país que não teve “revolução industrial” em tempo, e quando já tinha uma indústria ainda incipiente, ainda terceiro mundista, baseada em mercados africanos, de repente viu-se a enfrentar a concorrência dos países desenvolvidos, com as fronteiras escancaradas, as organizações corporativas destruídas, sem substituição, os sectores de industria condicionada desmantelados e agora as empresas estrangeiras que vieram aproveitar a mão de obra barata fogem para leste, por razões óbvias?! O desemprego aumenta assustadoramente, o país mergulhado na apatia, uma larga faixa da população não vota, desinteressada já do estado de coisas para onde conduziram a nação. Os militares que fizeram a abrilada estão refastelados nas boas pensões e acham que foram brilhantes. Exército? tivemos, cerca de duzentos e vinte mil homens. Hoje? Quase não existe. Na Guiné trabalhei com alegria e gosto de ajudar, pensava eu que o nosso exército era como o israelita com todos a lutar pela mesma causa. Noutros países a selecção para as escolas militares era rigorosa… Agora para ajudar a Guiné, os guinéus e ex-militares constituem-se ONG’s onde caritativamente alguns milicianos condoídos trabalham. Do QP?

Bom caro Zeca já é tarde, vou-me deitar e por aqui me fico.

10-03-2010

Manuel de Paiva e Sousa

3/07/2010

Resposta do Major Fontão ao meu "Desabafo"

Meu muito estimado Amigo Zeca e sua inseparável Heather,

Indo direito ao teu "desabafo":

Senti-me honrado por teres sido tão sincero comigo, mantendo aceso aquele sentimento raro que nos ligou em Farim, que era uma espécie de comunhão num tempo em que não nos abríamos assim sem mais nem menos, mas em que afinal se veio a construir o fundamento ético e patriótico do 25 de Abril. Os nossos percursos, tão diferentes um do outro, uniram-se ali para algo de substância política, ideológica, ética, cívica, mas sem um formato ou arregimentação concretos.

Por muito que custe a crer, foi quase assim que chegamos ao dia 24 de Abril de 1974.

Quando à noite passou o primeiro sinal na rádio com o "Depois do Adeus" do Paulo de Carvalho os dados estavam lançados, sendo que apenas eu e os dois capitães do quadro conhecíamos a Ordem de Operações recebida nessa manhã com os dois Objectivos: Rádio Clube e Quartel General (alterado à última hora pois tinha-nos sido indicado o Quartel do Carmo).

Durante todo o dia, disfarçadamente, tivemos de preparar tudo e tomar algumas medidas e eu tive de enganar o Comandante Interino, amigo pessoal do Ministro do Exército e que deve ter desconfiado de algo pois ficou no quartel para lá da hora habitual. Tive de mandar tocar à Ordem, pôr-me à paisana e fingir que ia para casa. Talvez por isso, já nós estávamos na rua, ainda o ministro garantia a paz nos quartéis.

Quando, depois do sinal, convoquei os milicianos para a Sala de Oficiais, não lhes falei no MFA que é tomado como motor do 25 de Abril, mas que só apareceu na noite de 25 e operacionalmente só a 26. Falei-lhes no Movimento de Capitães - esse sim, foi o verdadeiro e principal protagonista do derrube da ditadura.

Disse-lhes tambem que o movimento visava a democratização do país (que me tinha sido garantida pelo Otelo, que eu não conhecia de lado nenhum, mas foi a minha casa em Almada em nome do Movimento para eu assumir o comando do BC5). Falei-lhes também na dignificação das Instituições do Estado, mas não falei por exemplo no fim da guerra colonial, como o Salgueiro Maia e outros falaram; não me atrevi a isso, talvez porque tinha mais de 20 anos de Ultramar. Todos deram o seu assentimento, apesar de ter sublinhado que ninguem seria alvo de represálias, caso se recusasse a alinhar. Já contávamos com uma boa adesão. Depois reuni os Sargentos e passou-se o mesmo, com alguma surpresa minha, devo acrescentar.

Que 25 de Abril era o nosso? Cada um teria o seu na sua cabeça, mas colectivamente mobilizamo-nos no enquadramento político e institucional genérico que apontei e a mais não me atrevi, embora também já o tivesse apenas no meu íntimo e sem comprometimento de espécie alguma. Depois veio o MFA e a sinistra Junta de Salvação Nacional e os Partidos e os Sindicatos e os movimentos e as comissões de trabalhadores e todos falavam catedraticamente do 25 de Abril, cada um com o seu. A princípio irritava-me: nós é que o tínhamos feito e eles é que davam as sentenças?

Foi também isso que me fez afrontar o Spínola numa reunião que convocou para a Manutenção Militar, talvez tenhas lembrança disso, depois dele fazer um discurso catastrófico e concluir que um verdadeiro Oficial do MFA era o que anunciou numa série de itens. Concordava com alguns, com outros não. Fui o primeiro a lavantar-me dizendo-lhe que o ouvira com atenção, mas se precisasse de respeitar tudo quanto dissera, não seria eu então do MFA. Embora o Spínola apenas me considerasse homem de carácter, arranjei os meus primeiros inimigos e outros viriam atrás para me considerarem comunista, otelista e gonçalvista. Apenas me dava bem com o Otelo, que ainda não lhe tinha dado para a maluqueira e achava-o independente. Nunca fui comunista, fui mesmo anti-comunista. e o que mais me irritava era o apelido de Gonçalvista. Só falara com o homem quando foi meu professor na Escola do Exército e ninguem me sabia explicar o que era o gonçalvismo.

Verdadeiramente só percebi a "coisa" quando saiu um livro do Marcelo Rebelo de Sousa. Contava a história da reunião na Manutenção Millitar, tudo certinho, mas com uma curiosa "nuance", punha o Vasco Gonçalves a falar em primeiro lugar e concluia que " só o apoiou o Fontão". Estás a ver como se constroem as imagens? O Marcelo não estava lá mas alguem lhe soprou isso.

Muito, muito, teria a dizer e tenho escrito em artigos publicados ou por publicar, mas vou resumir o que me parece fundamental sobre o que foi o 25 de Abril: Na cabeça das pessoas, em cada partido, sindicato, etc. cada um tem o seu e se mantém agarrado a ele, mas muito poucos o mandam às urtigas e isso traduz a sua enorme dimensão. O grande protagonista foi o "Movimento de Capitães". Eu estava em Luanda num comando de intervenção, quando o Movimento começou. Já era Major e hesitei, mas em Agosto de 73, quando percebi que havia ali algo mais do que corporativismo, alinhei e fui-me maravilhando com a consciência aguda que os capitães tinham alcançado sobre o beco sem saida da guerra colonial. A partir daí eles conseguiram o que a minha geração e outras mais antigas nem de longe conseguiram, a unidade e um objectivo político: dobrar o "posso, mando e quero" do governo. Porém, não conheci nenhum capitão que funcionasse no quadro de uma ideologia política, fosse ela qual fosse. O grande lider dos capitães foi o Vasco Lourenço, que resume muito bem o que se passou na cabeça de quase todos: " Foi a guerra que me abriu os olhos para a política", ou seja, ela não teria fim e levar-nos-ia ao colapso se a política não fizesse o que lhe competia. Como nada mudou, o Movimento caminhou rapidamente para a decisão de derrubar o governo.

Falando agora das colónias:

Considero-me um "Filho do Império", por lá cresci [em Macau] e me fiz gente. Na volta de Macau, depois da guerra, o "Colonial", paquete ronceiro a carvão a depenicar pelos portos de Malaca, India, Moçambique, Angola e S. Tomé, não só me fascinou, como ampliou o respeito que a gruta de Camões e as fortalezas de Macau já me tinham incutido pelos protagonistas da nossa saga, da sua dimensão planetária.e apesar da idade registei que os adultos em África, falando com o meu pai, defendiam uma autonomia maior em relação à chamada metrópole.

Aos 16 anos, em Portugal, era um jovem fascinado pelo "American Way of life", visto nos filmes, e pelas aventuras ultramarinas bebidas no Salgari, etc. Não admira que tenha lido o manifesto do General Norton de Matos e tenha aderido à sua democracia e autonomia das colónias, como não admira que mal promovido a oficial me oferecesse como voluntário, indo para a Angola. Por sorte do destino fui comandar um destacamento no Bailundo que com o Bié, forneciam a maior leva de trabalhadores africanos para as fazendas do Norte, ditos voluntários, mas verdadeira semi-escravatura, com muita exploração pelo meio.

Uma coisa é certa, mantinha, a convicção de que estávamos em África com uma missão civilizacional, e em 1961, dada a brutalidade da revolta nos Dembos, ainda fui para a guerra em Angola com essa convicção embora já ciente da exploração dos indígenas pelos fazendeiros e cantineiros apoiados numa legislação imprópria e numa administração civil que fechava os olhos aos abusos. Ainda em Angola, no ano de 1958, quando tentei votar em Humberto Delgado, deparei-me com o vazio do meu nome na mesa eleitoral que me tinha sido designada. Mais tarde, vim a saber que dois altos funcionários da PIDE em Luanda, eram o capitão e o tenente milicianos que foram parar ao Regimento de Nova Lisboa no ano das eleições.

Quando nos encontramos em Farim, já estava noutra fase, não só pelo aprofundamento da minha bagagem cultural, como por desacreditar completamente da guerra a não ser como base da negociação. Tentei desviar o comandante do seu frenesim guerreiro à procura de roncos: capturávamos 4 ou 5 armas e entravam 10 ou 20. O pior é que empenhávamos nisso os milícias, quando eles seriam muito mais importantes na protecção das populações fazendo-as regressar às suas lavras, por exemplo, a Leste de Farim com a sua própria autodefesa, tal como em Bijene e Binta. As nossas forças de intervenção passariam a ter uma função mais defensiva. Com um controlo real das populações e o seu empenhamento na defesa da sua subsistência estruturávamos o território de modo a nos ser mais favorável uma negociação que obrigasse a um respeito mais democrático pela vontade das populações. Claro que não tive sorte nenhuma, mas o Spínola iria tentar algo de similar e como tive uma conversa com com um elemento do seu staff, de quem era muito amigo, acabei por ser convidado a integrar um comando destinado à recuperação de populações dentro dessa filosofia. Tive uma sorte dos diabos, porque tinha aceitado um convite para a polícia de Moçambique e o Major que foi no meu lugar ficou lá morto à catanada com outros dois majores e um alferes miliciano.

Voltando à Guiné, creio que sabes os desentendimentos que tive com o comandante [Tenente-Coronel Agostinho Ferreira]. Considerava-o boa pessoa e sério, mas aquela obsessão operacional induziu-o a uma aliança com o Perdízio [Chefe da Delegação da PIDE em Farim]. Estava estabelecido que lhe entregávamos os prisioneiros, mas ser-nos-ia dado conhecimento dos interrogatórios. Ora, concluí que ele punha os desgraçados a dizer o que queria, principalmente contra os mulatos e caboverdeanos que detestava. Vim a Lisboa de férias e quando regressei soube da prisão em Farim de vários desses homens, mas o Comandante nada me disse. Deixei passar uns dias, confirmei a notícia e entrei no gabinete do Comandante para declarar que não mais desempenharia as funções de oficial de informações, apenas as de operações. Ele tentou dar-me a volta, mas assim ficou e creio que isto não aconteceu em mais lado nenhum. Apesar disso ainda me condecorou com uma de vinhos e petiscos.

Como disse, fui depois para Moçambique, para Lourenço Marques, a convite de um Coronel de Cavalaria que foi meu chefe de Repartição. Nunca pensei nisso, mas era a oportunidade de estar dois anos com a família. Nunca tive situação assim boa, uma casa mobilada na zona nobre da cidade, cozinheiro, carro, lugares em todos os cinemas, entrada em tudo quanto era sítio, pois era o responsável pelas Informações. O problema foi quando entrei nos calabouços que estavam à minha responsabilidade, e quando pela primeira vez acompanhei uma acção no Caniço (bairro periférico indígena). Os calabouços eram um amontoado de gente e o Caniço uma gritante contradição com aquela maravilhosa cidade dos europeus que nem conheciam o que tinham ao lado. Não tinha estômago para aquilo, mas também não queria morder a mão de quem para ali me levara. Como tinha vagado um comando distrital, pedi ao comandante transferência para lá. Ele ficou sentido, mas fez-me a vontade, sem me exigir explicações. Em Nampula iria encontrar problemas que também me roeram a consciência, mas que fui resolvendo com o tempo. Esta experiência foi para mim o dobre de finados do colonialismo.

Nesta fase, entrei em leituras mais pesadas, como o Nietzsche, que foi um caso sério, costumo dizer que naufraguei, mas também outras leituras, como o Camus, que me influenciou muito, e todas aquelas que decorreram do Maio de 68 em França. Por isso iria chegar ao 25 de Abril com algum pensamento político, mas essencialmente com uma revolução cultural na cabeça.

Voltei a Portugal em 1971 para ser moblizado de imediato novamente para Angola, num Batalhão comandado por um salazarista e beato. Vi logo que iria ter problemas, pois era homem mesquinho e manhoso - um género detestável para mim. Fomos para Quibaxe, nos Dembos, onde a guerra era da mais baixa intensidade possível, a Lilica [esposa, Maria Luisa, natural de Angola] marchou logo com as três filhas para a sua terra. Acabei por alugar uma casa de adobo e zinco e lá estivemos relativamente bem até que a guerra estoirou. O comandante começou com uma conversa de que deveríamos andar sempre fardados pois estávamos com subsídio de campanha. Não liguei nada à conversa e continueei a ir para casa, tomar o meu banho, apaisanar-me, dar uma volta pela Vila e quando entendia assim ia à sala de operações resolver o que fosse necessário.

O homem um dia deixou um artigo para a Ordem e raspou-se não sabíamos para onde. Logo que vi a alarvidade, fui ao 2º Comandante já com uma queixa contra o comandante e com a atrapalhação dele intimei-o a dar conhecimento ao sector da situação. Assim foi, e no dia seguinte o manhoso regressou e mandou anular o artigo publicado, mas não me disse uma palavra. Uns dias depois mandou-me sair com uma extensa lista de missões para eu dar uma volta a todo o sector do Batalhão. Fiz tudo quanto me disse e mais outras que me apareceram pelo caminho, nomeadamente, com ajuda de fazendeiros do Pango Aluquem, fomos explorar uma ligação de picada directa que estava inoperacional não sabíamos porquê. Verificamos que tinha passado por ali uma manada de elefantes e acabamos por reabrir a picada ao trânsito.

Regressei, fiz um extenso relatório com considerações sobre a operacionalidade das companhias que sabia que gostaria de esconder debaixo do tapete e como ele me tinha feito preceder de uma autorização para os comandantes de Companhia me concederem escolta, uma coisa despropositada que os próprios capitães estranharam, fiz a seguinte consideração: "a decisão inédita de me fazer preceder de autorizações operacionais pode, em casos de emergência, inibir-me de tomar as decisões mais adequadas". Fui punido com uma repreensão agravada por ter usado a expressão "inédita " que o comandante tomou como ofensiva. Reclamei. Recusou. Recorri para o Comandante de Sector e foi surrealista a decisão. Num despacho que começa por tecer um grande elogio ao relatório e à forma como desempenhei a minha missão, retira a redaçção, mas mantem a punição com a alegação de que um Oficial não deve limitar-se a cumprir escrupulosamente as ordens recebidas, mas tambem se deve "irmanar no espírito do seu comandante". Levei os recursos até ao Conselho superior de disciplina mas foi tudo considerado improcedente. Acabei por pedir a minha transferência e mesmo a passagem à reserva.

A instituição militar teve na ditadura esta despropositada visão transcendental, fascista, da acção de comando, mas manteve uma outra faceta positiva, o respeito pelos que se portavam com dignidade. Foi o que me aconteceu na Guiné e tambem depois da minha reacção em Angola, onde o Quartel General me transferiu para o Comando de Sector do Bié, onde voltei a ter direito a casa e cozinheiro, e levei ao fim de uns meses belo louvor do Brigadeiro e acabei por ser transferido para Luanda na prestigiosa função de 2º comandante de um comando de intervenção onde levei mais um bruto louvor, antes de regressar à metrópole com o meu batalhão original que teve de publicar em O.S. tudo quanto me aconteceu.

A minha despedida da vida colonial foi inesperada, mas provocada por mim.

Depois do 25 de Abril, fiquei a comandar o BC5, tendo por Chefe do Estado Maior um ex brigadeiro que fora por mim detido na manhã do dia 25 de Abril por ordem do Posto de Comando e ao cair da noite me mandram levar á Pontinha e depois apareceria na Junta de Salvação Militar como representante do Exército. Conheces alguma revolução em que se tenha prendido o seu Chefe de Estado Maior? Telefonou-me pouco depois para saber se concordava com o regresso do anterior comandante. Embora ele tivesse sido homem da confiança do governo, era bom homem e só exigi que, ao reassumir o comando, assumisse o espírito do 25 de Abril. Assim aconteceu, mas o problema foi que, poucos dias depois, já havia um levantamento de rancho que eu e um dos capitães tivemos de resolver. O novo comandante sentiu-se inseguro e foi-se embora.Ali a rondar o nosso batalhão andou o MRPP Aventino Teixeira e outros abutres e panfletos lá dentro eram aos montes.

Entretanto o BC5 foi extinto com outros Batalhões e despejaram lá a comissão liquidatária da Guiné. Não estive para aturar aquilo, fui falar com o Otelo que era o meu comandante e disse-lhe que estava disponível para colabarar na descolonização em missão militar. Fui rapidamente nomeado para Angola. Partia com uma grande ilusão, a verdadeira inocência de julgar que a minha experiência colonial de 22 anos serviria de alguma coisa e a minha crença profunda de que a grande comunidade portuguesa em Angola, onde possuia inúmeros amigos e familiares, encontraria forma de se encaixar na nova nação angolana.

O Almirante Rosa Coutinho, depois de alguma insistência com razões válidas, conseguiu convencer-me a aceitar o cargo de Governador e Comandante Militar de Cabinda. Não vou agora falar de tudo quanto se passou, um dia farei isso. Dir-te -ei apenas que, já em Lisboa, mas muito mais em Cabinda eu tive a autêntica noção da força dos fenómenos sociais como aqueles que se desencadearam com o 25 de Abril. Não há boas intenções, propósitos exteriores e muitas vezes força que lhes resista. Está fora desta verdadeira lição da história quem, por exemplo pense que a descolonização poderia ser conduzida assim ou assado. Um exemplo te dou: em Cabinda tive de cercar com forças de intervenção e desarmar um batalhão das nossas tropas que tinha saneado todos os oficiais e sargentos. A mesma tropa que comandávamos, quase todos, disciplinadamente na guerra, com mortos e feridos, de um momento para o outro, com as cartas da família, o "não dês mais um tiro" ou os slogans do MRPP e de outros, "nem mais um soldado para a guerra", declinavam qualquer sacrifício.

Se te fiz esta dissertação toda foi para te identificar com o meu percurso pessoal com as ocorrências da vida militar e colonial, da guerra, da cultura, da política, que me fizeram desembocar no 25 de Abril. Talvez seja pouco vulgar, mas quantas outras histórias vulgares ou não lá convergiram?

Para concluir:

Quem derrubou a ditadura, foi o Movimento de Capitães e líderes como o Vasco Loureço e alguns outros e um comando operacional de um conjunto de oficiais que, com alguma boa vontade, andará pelos duzentos. A maior parte deles sairam de cena e alguns nem sequer intervieram nos episódios políticos , como foi o meu caso que nunca participei em qualquer daquelas assembleias do MFA revolucionárias, em Conselhos da Revolução etc.

Embora alguns oficiais da Força Aérea tivessem participado nas acções militares - e eu até colaborei com eles na ocupação do RCP - e dois ou três da marinha se tivessem também comprometido a título pessoal, verdadeiramente, só no dia 25 apareceu o MFA como se todos tivessem papel idêntico, o que foi mais um decisão inteligente dos capitâes para anular disputas perigosas com os dois ramos que apenas nos tinham assegurado a sua neutralidade, uma coisa muito nebulosa sobre a qual tenho a minha opinião.

Daí para a frente foi a acção puramente política com as suas perturbações próprias que tu bem conheceste e as perturbações gerais do sistema por algumas Prima-Donas militares com foi o caso do Spínola, do Otelo, mais tarde do Eanes e de outros.

Vou-me ficar por aqui e já é bastante demais, não sei se terás paciência para tanto.

Acabei por não resistir ao correr da pena e sairam coisas em primeira mão que tinha guardadas.

Um grande abraço fraternal,

José

3/04/2010

Desabafo


(ao meu amigo José Cardoso Fontão, um dos militares de Abril)

Amigo Zé,

Remeto-te este desabafo em primeira mão, antes de o publicar no meu blog, pelo respeito e admiração que me mereces, na qualidade de (ex-) militar de carreira honesto e competente – o único que conheci com tais qualidades. Passámos alguns meses de sã camaradagem em Farim, no norte da Guiné-Bissau, em 1966-68, quando eu era alferes tesoureiro e tu capitão oficial de operações do Batalhão de Caçadores 1887. Ali tivemos a oportunidade de nos reconhecermos mutuamente como democratas, amantes da liberdade, e (naturalmente) opositores ao regime de partido único que vigorava então no país. Ali cimentámos também um relacionamento a nível de famílias, uma vez que eu, como sempre, desde sempre e até sempre, não vou para lado nenhum sem a minha mulher e, portanto, ela foi para a guerra comigo; a tua esposa também se reuniu a nós por algum tempo em Farim e assim os dois casais comungaram de uma camaradagem inesquecível.

Admirei a coragem e frontalidade com que assumias as tuas posições político-sociais e creio que tu nutrias a meu respeito iguais sentimentos. Como deves lembrar-te, os nossos longos serões na casa que eu e a Heather partilhávamos em Farim com mais 3 camaradas de armas, eram recheados de discussões políticas e temperados pelas canções de revolta que eu havia composto ao longo dos anos, mais aquelas que compus ali mesmo.

Bastante viajado e muito lido, eu alimentava a grande esperança de ver um dia o meu país funcionar em plena democracia, sem censura e sem limitações à liberdade individual e coletiva que não fossem aquelas naturalmente impostas pelos códigos de leis aprovadas pelos órgãos democráticos competentes.

Tinha participado ativamente da campanha presidencial do general Humberto Delgado e provado o sabor das cargas de cavalaria da GNR. Tinha estado envolvido, ainda que com certa desconfiança, nas agitações acadêmicas de 1962/63 em Lisboa.  Participei mais tarde ainda mais ativamente das eleições legislativas de 1969, em que aceitei ser fiscal na minha assembleia eleitoral pela CEUD. Foi aí que comecei a perceber que havia elementos na oposição que mais não pretendiam do que substituir o regime fascista por um regime comunista e manter tudo o resto na mesma forma...

Todavia, pensava que o importante seria derrubar o regime e que o sistema multi-partidário se encarregaria de arrumar as pessoas segundo os seus ideais e partidos políticos que seriam submetidos regularmente à votação livre do povo.

No despontar do ano de 1974 não me parecia que aquele objetivo estivesse em vias de se tornar realidade. Na Assembleia Nacional, o grupo dos “liberais”, constituído principalmente por Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Mota Amaral e Alberto João Jardim, pouco ou nada conseguia fazer, dada a sua inferioridade numérica. Nas ruas, os movimentos de extrema esquerda pintavam paredes, semeavam bombas e faziam sabotagens a esmo, provocando a revolta do povo e não a sua adesão. Tudo levava a crer que o regime de partido único com quase 50 anos de existência iria eternizar-se no poder ad infinitum...

Fui, durante muitos anos, assinante da revista “Seara Nova” e comprava a maioria dos livros que aquela editora publicava, antes de serem apreendidos pela censura. Ali tomei conhecimento dos nomes e dos escritos de democratas e republicanos históricos, desde António Sérgio a Salgado Zenha, Sottomayor Cardia, Mário Soares, etc. Era, também, amigo de diversos jornalistas ligados ao jornal “A República”, cujo diretor, António Rego, muito admirava.

Jamais me havia passado pela cabeça que a instituição militar viesse a promover algum tipo de “reviralho”, dado o seu natural e histórico conservadorismo. Na realidade, o regime mantinha-se no poder precisamente graças ao apoio das Forças Armadas, cujo golpe de 28 Maio de 1926 tinha instituído a Ditadura Nacional que se mantinha até então no poder sob o nome de Estado Novo. Todos os Presidentes da República do regime, nomeados por escolha ou por eleições falseadas, tinham sido chefes militares: Gomes da Costa, Fragoso Carmona, Craveiro Lopes, Américo Tomás... O regime era uma criação militar e mantinha-se graças aos militares, a menos que...

A menos que alguma parte das Forças Armadas, agora infiltradas por milhares de oficiais e sargentos milicianos oriundos das camadas populares e acadêmicas, soltasse o “grito do Ipiranga” – o que me parecia um pouco utópico.

Foi então que, em Fevereiro de 1974, surgiu o livro “Portugal e o Futuro”, assinado pelo general António de Spínola. Fiquei sem fala! Não cheguei a conhecer o general Spínola na Guiné porque ele chegou lá para assumir o posto de Governador precisamente na ocasião em que eu regressei à Metrópole. Conheci somente o General Arnaldo Schultz, que foi Governador durante o meu período de comissão, e tive muito boas relações com ele.

Mas o livro de Spínola, que era o Vice-CEMFA, ou seja, o 2º mais alto responsável pelas Forças Armadas no país, parecia-me ser o gatilho que levaria ao fim do regime. Certamente que haveria seguidores para as suas ideias, pensei, dentro e fora das Forças Armadas.

Não me enganei. Tinha começado o processo irreversível que levaria à queda do regime por golpe militar dos “subalternos”, menos de dois meses depois. Não interessa esmiuçar quais os verdadeiros motivos, reivindicativos ou outros, que levaram aquele grupo a promover o golpe. O que interessa é que ele personalizou o anseio coletivo de um povo que queria soltar-se dos grilhões que há tanto tempo lhe tolhiam os movimentos.

Assim, sob o aplauso das multidões populares que invadiram as ruas, o regime caiu no dia 25 de Abril de 1974, sem qualquer tentativa de resistência. Caiu de velho, de podre, de inútil. Exultei de genuína alegria! Pensei que aquele iria ser o dia mais feliz da minha vida. E assim continuei pensando até que me apercebi de algo que jamais previra... e a minha ilusão terminou juntamente com a saída do general Spínola de Presidente da República, em Setembro de 1974.

Eu já tivera alguns sinais de que uma trama medonha se urdia pela calada contra o meu povo. Lembras-te, Zé Fontão, quando, poucos dias após o 25 de Abril, te fui visitar ao BC-5, cujo comando tinhas assumido? Talvez não te lembres, dado que andavas num rodopio para garantir o total sucesso do golpe militar. Mas, no decurso de um copo que tomámos rapidamente no Clube de Oficiais, tive ocasião de te dizer que estava surpreendido com o facto de que, agora que as barreiras pidescas e censórias estavam por terra, não encontrava nenhuma porta aberta para divulgar as dezenas de canções de intervenção que tinha composto ao longo dos anos. Um grupo auto-intitulado de “Canto-Livre”, constituído quase exclusivamente por refratários e desertores de extrema-esquerda, estava a monopolizar os meios de comunicação rádio-televisivos e os espetáculos públicos.

Procurei não dar demasiada importância a essa situação – que julgava transitória – e envolvi-me inteiramente na militância do Partido Socialista que, julgava preconizar o tipo de sociedade que eu ambicionava para Portugal. Ajudei a fundar o Centro de Trabalho de Santa Maria de Belém, juntamente com uma dúzia de camaradas. Participei de muitas lutas e resistência à tomada do poder pelos comunistas, que estiveram quase por um triz para conseguir os seus desígnios. Valeu-nos nessa ocasião o Jaime Neves, em homenagem a quem compus, na época, uma canção intitulada “Balada dos Comandos e dos comunas”, cujo refrão dizia:

“Vê, comuna, se te atreves
A enfrentar o Jaime Neves!”

Tive a ocasião de cantar pessoalmente esta balada ao Jaime Neves quando ele nos visitou no Parque de Campismo de Setúbal, onde eu passava os fins-de-semana.

Durante muitos meses assisti ao assalto aos sindicatos, à queda de todos os princípios de respeito e moralidade, à instituição da bandalheira por parte de TODAS as forças políticas em presença. Fui convidado para banquetes em herdades “ocupadas pelos trabalhadores” no Alentejo onde se esbanjava em um dia aquilo que demorara muitos anos a construir. Ah, como me vinha constantemente à memória a obra “Animal Farm” de George Orwell, e a inevitável comparação daqueles ocupadores da propriedade alheia com os porcos da novela. Igualzinho, caramba!

O PS tinha conseguido tomar de assalto (que era o que todos os partidos faziam) o Sindicato dos Profissionais de Escritório do Distrito de Lisboa (perdoa-me se o nome não está correto). O camarada que assumiu a presidência era nosso companheiro do Centro de Belém. Quando ele me lançou o convite “Zeca, traz a viola, vamos fazer um bacanal na sede do sindicato, com muitas garotas e muito whisky e champanhe na semana que vem”, eu fiquei perplexo. Tal como havia feito em relação às festas das herdades ocupadas afirmei “Mas isto era o que faziam os fascistas, nós não podemos ter esse tipo de comportamento!”. Porém, a resposta era sempre a mesma, qualquer que fosse a cor do pseudo-revolucionário inquirido, “Os fascistas não tinham o direito de fazer isto, mas nós estamos legitimados pela revolução, pela justiça revolucionária, pelo poder popular, pelo MFA e pelo PREC”. Cedo apresentei a minha demissão de militante do PS, principalmente após este ter ganho a primeira eleição livre e Mário Soares se ter revelado um péssimo primeiro ministro e formado um governo sem a mínima idéia de Estado.

Diversas pessoas, militares e civis, que eu conhecia e com quem privava, e que tinham sido reconhecidamente servidores e adeptos do regime fascista, fizeram repentinamente o que eles apelidaram de “opção de classe” e partiram cegamente à “caça dos fascistas”, usando de todas as torpezas e arbitrariedades, e desencadeando um processo que eles chamaram de “saneamento”, para derrubar pessoas, quase sempre as mais aptas e competentes, que se encontravam no seu caminho para o topo. O malfado CopCon de má memória foi um exemplo flagrante de como os militares podem destruir a Sociedade.

Assim se instituiu o reino da incompetência e da mediocridade que governa Portugal até hoje. A tentativa por parte de Sá Carneiro em 1980 de apresentar ao eleitorado uma alternativa de centro, foi premiada com um assassinato descarado. Todas as forças políticas abafaram o acontecimento como se estivessem envolvidas no atentado. Nunca fui capaz de compreender isto.

Quanto à chamada “descolonização exemplar”, nem vale a pena falar. Tratou-se de uma rendição incondicional com entrega do poder e do armamento a grupelhos comunistas sem o mínimo embasamento popular, que denegriu para sempre a imagem das nossas Forças Armadas e traiu a memória dos nossos irmãos que tombaram mortos em terras africanas ao longo de mais de uma dúzia de anos de conflito armado. Nuno Álvares Pereira levantou-se do túmulo e vomitou de desgosto e revolta. E as populações das ex-colónias “libertadas” envolveram-se em guerras civis infindáveis, por única e exclusiva culpa dos nossos políticos e militares.

Apesar de tudo isto, e apesar de a maioria dos membros da família terem abandonado o país para nunca mais voltar, eu continuei remando contra a corrente por mais de uma dúzia de anos, acreditando no milagre de uma mudança para melhor. Enganei-me redondamente.

Finalmente, sentindo-me traído e ludibriado, saí definitivamente do país no início de 1988.

Se alguma coisa lamento hoje, foram os anos estúpidos que passei em Portugal, desde finais de 1974 até Janeiro de 1988, apostando num cavalo coxo, dando a minha energia e criatividade como empresário e como cidadão para um projeto que somente visava os interesses mesquinhos e egoístas de uma classe de vigaristas e atrasados mentais que tomaram conta do país e o sugaram até o exaurir sem o mínimo respeito por nada nem por ninguém. Esses mesmos e os seus herdeiros encontram-se no poder ainda hoje e não parece haver como desalojá-los, uma vez que as novas gerações, vítimas de sistemáticas lavagens cerebrais, deixam-se cozer (como os sapos da anedota), com um sorriso nos lábios estupidificados, no caldeirão da incompetência nacional.

Por isso, meu amigo Zé Fontão, tenho o arrojo de perguntar-te, como representante do MFA que fez o golpe de 74: achas que valeu a pena?...

Um grande abraço!

Zeca